Vapes (cigarros eletrônicos) ganharam espaço entre jovens e adultos, muitas vezes embalados pela promessa de serem “menos nocivos” que o cigarro. Mas, quando o assunto é coração, os sinais de alerta já são claros: o aerosol do vape contém nicotina e outras substâncias que elevam a pressão, aceleram os batimentos, irritam os vasos e favorecem alterações no sangue, um terreno fértil para arritmias e eventos como infarto e AVC.
O que é o vape e por que ficou tão popular
O vape é um dispositivo que aquece um líquido (com ou sem nicotina) para formar um aerosol inalado. A popularidade cresceu com a variedade de sabores, marketing digital e a ideia de que seria uma “alternativa” ao cigarro. Entre estudantes, isso pesou: nos EUA, vapes seguem como produto de tabaco mais usado por adolescentes; em 2024, 87,6% dos que vapearam relataram usar versões com sabor. No Brasil, a experimentação entre escolares (13–17 anos) chegou a 16,8% em 2019, mostrando que o produto também atrai parte da nossa juventude.
O que vai para o seu corpo: o que há na “nuvem” do vape
Nicotina e o efeito “acelerador” no coração
A maioria dos vapes contém nicotina, substância altamente viciante, que ativa o sistema nervoso simpático, sobe frequência cardíaca e pressão arterial e pode precipitar arritmias em pessoas suscetíveis.
Aromas, solventes e metais: a mistura que irrita vasos e pulmões
O aerosol pode carregar solventes (propilenoglicol e glicerina), compostos carbonílicos formados pelo aquecimento, flavorizantes (incluindo agentes de “sensação de frescor”) e metais oriundos da resistência do aparelho. Essas partículas ultrafinas alcançam a circulação e impactam o endotélio (revestimento interno dos vasos). Não é “apenas vapor”.
Impactos cardiovasculares já observados
Pressão e batimentos sobem logo após o uso
Estudos mostram aumento agudo de pressão arterial e frequência cardíaca após sessões de vape. Em 2025, um trabalho no Journal of the American Heart Association observou que líquidos com “efeito refrescante” sintético elevaram mais a pressão e a frequência do que outras formulações, sinal de que certos aditivos podem potencializar o estresse cardiovascular.
Endotélio “irritado”, sangue mais “pegajoso”
Pesquisas em humanos demonstraram piora transitória da função de pequenos vasos e aumento da formação de coágulos logo após o uso de vapes com nicotina, um caminho que, repetido, favorece eventos trombóticos. Resultados apresentados por sociedades europeias de respiratória e cardiologia apontam esse combo de disfunção endotelial e “hipercoagulabilidade” pós-vape.
Arritmias e infarto: o que a ciência aponta
Revisões e posicionamentos de associações cardiológicas indicam que o vape ativa respostas inflamatórias e oxidativas, altera a reatividade vascular e pode aumentar risco de desfechos cardiovasculares ao longo do tempo, sobretudo em usuários dual (vape + cigarro). Há evidências emergentes ligando o uso a maior probabilidade de eventos como infarto, embora estudos de longo prazo ainda estejam em andamento. O recado das diretrizes é claro: não é seguro para o coração.
“É mais seguro que cigarro”? Por que essa ideia é perigosa
Mesmo que alguns vapes emitam menos toxinas do que o cigarro convencional, “menos” não significa “inofensivo”. O risco cardíaco não desaparece: permanece o efeito da nicotina, a inflamação e a agressão ao endotélio. Além disso, a dupla exposição (vape e cigarro) é frequente e mantém, ou até soma, riscos. Em adolescentes, a combinação com outros produtos de tabaco é comum.
Brasil: o que diz a Anvisa e o que pais e escolas precisam saber
No Brasil, a Anvisa mantém proibidos fabricar, importar, comercializar, armazenar, transportar e fazer propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar (RDC 855/2024). O uso em recintos coletivos fechados também é vedado por lei. Isso significa que a presença de vapes no ambiente escolar ou doméstico exige informação, diálogo e vigilância responsável.
Prevenção e cuidado: passos práticos para quem quer proteger o coração
- Informação clara: explique que a “nuvem” do vape leva nicotina e outras substâncias ao sangue e ao coração, aumentando pressão e batimentos logo após o uso.
- Ambiente que protege: escolas e famílias devem coibir dispositivos saborizados e reforçar regras; entre jovens que vapeiam, o uso de sabores é predominante.
- Estilo de vida amigo do coração: atividade física regular, sono e manejo do estresse reduzem a pressão e a inflamação de base, diminuindo a “janela” de risco. (Baseado em diretrizes cardiovasculares gerais.)
- Se você já usa vape:
- Defina uma data para parar e busque apoio profissional. O SUS oferece tratamento gratuito (aconselhamento estruturado e, quando indicado, terapias como reposição de nicotina ou bupropiona). Ligue Disque Saúde 136 ou procure a UBS para iniciar.
- Evite a “dupla exposição” (vape + cigarro).
- Se você tem pressão alta, colesterol alto, arritmias, diabetes ou histórico de infarto/AVC na família, redobre o cuidado e abstenha-se do vape.
Para famílias e gestores escolares
- Inclua o tema vape em programas de saúde escolar e campanhas internas.
- Alerte sobre os sinais de uso: dispositivos pequenos, embalagens de refil, cheiros adocicados persistentes.
- Oriente sobre a ilegalidade da venda no país e caminhos de apoio para quem deseja parar.
Quando procurar um cardiologista
- Palpitações, “choquinhos” no peito, tontura, falta de ar, dor torácica, pressão sempre alta ou quedas de pressão pós-vape merecem avaliação.
- Portadores de cardiopatias, gestantes e pessoas acima dos 40 anos com fatores de risco (hipertensão, diabetes, colesterol alto, sedentarismo) não devem usar vape e precisam de acompanhamento regular.
Grupo Sirius: nós cuidamos de coração
Se você ou alguém da sua família usa vape e quer proteger a saúde cardiovascular, marque uma consulta no Grupo Sirius. Nossa equipe integra cardiologia clínica, arritmologia, hemodinâmica e programas de prevenção, do aconselhamento para cessação à investigação de sintomas como palpitações e dor torácica. Nós cuidamos de coração!



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